Mestre Geraldo, o moldelador do tempo
- memoriaskariri
- 12 de mai. de 2023
- 3 min de leitura
Por: David Braga e Sebastião Arrais
Uma oficina na Avenida Carlos Cruz, em Juazeiro do Norte, guarda o único mestre relojoeiro do Brasil. Com mais de 50 anos dedicados à arte dos relógios, Mestre Geraldo Ramos deu início ao ofício por devoção a Padre Cícero. O repórter Guilherme Carvalho nos leva a conhecer a história e a produção desse mestre que estão espalhadas por todo Brasil e até no Guinness Book.

Aos 83 anos, Mestre Geraldo Ramos mantém vivo em seu dia a dia o manejo e a arte dos relojoeiros. Natural de Juazeiro do Norte, é um dos primeiros especialistas em relógios de torre no Brasil. Hoje, o Mestre passa sua experiência e conhecimento para seus filhos, que, ao lado do pai, são responsáveis pela manutenção da coluna da hora na Praça Padre Cícero.
Memórias Kariri: O senhor é pioneiro na fabricação de relógios, colunas e sinos de igreja, não é?
Mestre Geraldo: Exatamente. Quando só se fabricava relógio na Suíça, que é o berço do relógio, e lá em Nova Iorque, nós aqui fabricávamos há muito tempo. Então, nós somos pioneiros na América Latina na fabricação de sinos e principalmente de relógios de coluna e torre de igreja.
Memórias Kariri: Quantos relógios o senhor fabricou? Quais são possíveis de ser encontrados na Região do Cariri?
Mestre Geraldo: Rapaz, na faixa de 60, que fiz só por minha conta depois que saí do Salesianos. Aqui na região, eu tenho no Crato, aquele com seis mostradores, que é o primeiro do mundo com seis mostradores. Tá até no Guinness Book. É aquele da Igreja de São Francisco. Por aqui, eu tenho bastante, não me recordo agora, mas tenho uns 3 ou 4 aqui na região do Cariri.
Memórias Kariri: Como é que veio o reconhecimento de mestre pela Secretaria de Cultura do Ceará?
Mestre Geraldo: Rapaz, isso surgiu eventualmente, né? Lá na oficina saiu a conversa, no boca a boca, que a gente fabricava relógio. Daí o pessoal foi lá, me entrevistou e eu contei mais ou menos a história: como foi no começo e essa coisa toda. Você saber que está representando sua terra e essa coisa toda, pra mim é um prazer e uma honra.
Memórias Kariri: O senhor está com 83 anos e tem mais de 50 anos dedicados a essa arte. Como o senhor se sente em ver todo esse ensinamento sendo passado e eternizado para seus filhos?
Mestre Geraldo: Rapaz, eu me sinto, assim, orgulhoso por fazer parte deste setor e saber que eu já tenho seguidores. Quando eu partir lá para o outro lado, alguém vai ficar dando continuidade ao nosso trabalho, que é muito importante para a nossa cidade e nossa região, principalmente a cidade de Juazeiro do Norte, que deveria ser conhecida como a capital da fabricação de relógios. Isso era para fazer parte de livros didáticos do primário até a faculdade. Essa é a história da nossa terra!
Memórias Kariri: Nesta sua trajetória dedicada à arte dos relógios, o que o senhor mais se orgulha?
Mestre Geraldo: O que mais me orgulho é ter dado prosseguimento a arte que era do meu pai, que tudo começou com ele, ele era ferreiro. Então, o precursor foi meu pai neste negócio de mecânica. E hoje, os relógios que fiz tudim ainda funcionam, e tem muitos deles que eram eletrônicos, não sei o que, que já sumiram, acabaram.
Memórias Kariri: Daqui a 100 anos, quando alguém lembrar do senhor, o que você deseja que fique de legado?
Mestre Geraldo: Eu quero que fique na memória do povo que foi, depois dos Salesianos, eu fui o cara que deu continuidade a fabricação de relógios aqui, que representa muito bem a nossa terra. Tô passando aqui para o meu filho, e possivelmente para algum neto que se interessar por isso, que é uma coisa histórica. Como eu tô dizendo, deveria ser inserido no jardim da infância até as universidades.
Confira o texto na íntegra acessando a edição 8.
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